20 maio 2012

AS TRÊS FASES DO PLANO PORTUGUÊS


AS TRÊS FASES DO PLANO PORTUGUÊS (*)     

 

     “ O objectivo principal do inimigo é destruir o nosso Partido, porque em África e em todo o mundo o seu prestigio e o prestigio dos seus principais dirigentes estão no auge.

        Ele está convencido de que a prisão ou a morte do principal dirigente significaria o fim do Partido e da nossa luta.

        Por isso mesmo, o objectivo real dos portugueses na sua tentativa de invasão da Republica da Guiné (Conakry), em 22 de Novembro de 1970, era o assassinato do secretário geral do Partido e a destruição da base na retaguarda da revolução constituída pelo regime de Sékou Touré.

        Numa palavra, destruir o Partido agindo no seu interior.

 

        O plano do inimigo fará-se-á em três fases:

 

            Primeira fase:

   Actualmente, muitos compatriotas abandonam Bissau e outros centros urbanos para se juntarem às nossas fileira. Nesta ocasião, o general Spínola espera poder introduzir agentes (antigos e novos membros do Partido) nas nossas fileiras.

   A sua tarefa: estudar as fraquezas do nosso Partido e tentar provocações apoiando-se no racismo, no tribalismo, opondo os muçulmanos aos não muçulmanos.

           

            Segunda fase:

   1. Criar uma rede clandestina (penetrando, por exemplo, no Partido e nas forças armadas;

   2. Criar uma direcção paralela, se possível com um ou dois dirigentes actuais do Partido (de entre os descontentes);

   3. Desacreditar o secretário geral, para preparar a sua eliminação no quadro do Partido ou, se a necessidade o impuser, pela sua liquidação física;

   4. Preparar nova “ direcção “ clandestina para fazer dela o verdadeiro organismo dirigente do PAIGC;

   5. Paralelamente, lançar uma grande ofensiva para aterrorizar as populações dos territórios libertados.

 

            Terceira fase:

   a. No caso de falhar a segunda fase, tentar um golpe contra a direcção do Partido, fazendo assassinar o seu secretário geral;

   b. Formar uma nova direcção baseada no racismo e opondo guineenses e cabo-verdianos, utilizando o tribalismo e a religião (muçulmanos contra não-muçulmanos);

   c. Entrar em contacto com o governo português. Falsa negociação, autonomia interna, criação de um governo fantoche na Guiné-Bissau que seria designado “Estado da Guiné” e faria parte da comunidade portuguesa;

   e. Postos importantes estão prometidos pelo general Spínola a todos que executaram o plano.

 

           Conclusão – Devemos reforçar a nossa vigilância para desmascarar e eliminar os agentes do inimigo, para defender o Partido e encorajar a luta armada. Assim poderemos frustrar todos os planos criminosos dos colonialista portugueses.

        O inimigo tentou corromper os nossos homens, mas a esmagadora maioria dos responsáveis contactados não aceitou vender-se, comportaram-se como dignos militantes do nosso Partido e contribuíram mesmo para castigar severamente os portugueses que tentavam comprá-los, como foi o caso dos quatro oficiais, próximos colaboradores de Spínola, liquidados no norte do país.”

 

(*) De um documento da autoria de Amílcar Cabral, distribuído em Março de 1972 aos quadros do PAIGC

 



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