29 dezembro 2010

Cidadão, Militar e Terrorista na reforma, mas exemplar

Alpoim Calvão, o chefe operacional do ELP/MDLP, organização que se distinguiu pela execução de 7 atentados mortais, foi condecorado no dia 10 de Julho de 2010 com a “Medalha de Comportamento Exemplar”
 Por Mário Tomé 
Alpoim Calvão, o chefe operacional do ELP/MDLP, organização que se distinguiu pela execução de 7 atentados mortais, foi condecorado no dia 10 de Julho de 2010 com a “Medalha de Comportamento Exemplar”
A profundidade das transformações do 25 de Abril impostas pelas movimentações sociais durante o efervescente PREC, dificultou a restauração do domínio da finança e a reinstalação das grandes famílias. Persistente e pacientemente o marcelismo foi-se recompondo, ora pela mão dos seus legítimos herdeiros, no PSD, ora pela pragmática visão estratégica de Mário Soares que, segundo ele próprio, tem uma espécie de dedo que adivinha. Sócrates, o seu aposto ou continuado, não tem demonstrado menos crença no futuro... do passado. O devir das sociedades é determinado pelos mais diversos e, tantas vezes, quase indecifráveis factores que provocam grandes saltos de qualidade ou, apenas, assinalam o êxito de um percurso.
A condecoração do Capitão de Mar e Guerra Alpoim Calvão na singeleza que caracteriza os actos com que os militares se elogiam uns aos outros é, insuspeitadamente, a meta que demorou 35 anos – menos o que falta para Novembro próximo – a atingir!
À notícia do DN de 11/7, sendo colorida na descrição, falta ambição.Podia ter ido mais longe no elogio do heróico fuso. Podia ter informado ou apenas lembrado – à malta mais antiga – que o Cmdt. Alpoim Calvão foi o chefe operacional do ELP/MDLP, organização que se distinguiu pela execução de 7 atentados mortais, 62 atentados contra habitações, 52 automóveis destruídos, 62 acções terroristas não especificadas, 102 sedes de partidos de esquerda atacadas e 70 destruídas. Aquela organização terrorista, cujo chefe político era o General Spínola (talvez por isso foi tornado Marechal), especializara-se na colocação de bombas. Foram eles que me mataram um amigo: o Padre Max, candidato a deputado pela UDP, a 2 de Abril de 1976. Dia esse em que, curiosamente, era promulgada a Constituição Política mais avançada do mundo, a nossa, fruto da luta política e social do PREC, que o ELP/MDLP pretendeu sufocar.
Portanto, o comandante Alpoim Calvão foi condecorado no dia 10 de Julho de 2010 com a “Medalha de Comportamento Exemplar”, a única que lhe faltava. Foi-lhe imposta pelo vice-almirante Picciochi, dizendo que “acertámos contas com a justiça”.
Se não é pelas bombas – ou será? - terá sido pela Operação Mar Verde em que Calvão ia liquidar (o termo é este no relato do próprio no livro que escreveu, mas tem vindo a ser atenuado a cada entrevista ou referência estando agora quase ao nível do convite para tomar chá...verde) Amilcar Cabral e o Presidente da Guiné Konacri, que o Ministro da Defesa, o CEMA e o CEMGFA dão cobertura a esta condecoração? Só encontro uma interpretação: a condecoração de Alpoim Calvão representa, simbolicamente, a consolidação do regime que adere à guerra terrorista dos EUA e da NATO contra os povos, e rejeita o imperativo constitucional de continuar a tradição pacífica e anticolonial do 25 de Abril.
(Artigo publicado no jornal “Sol” de 16 de Julho de 2010)

28 dezembro 2010

Genocidio na Selva Peruana (Edwina Hayes)

AMAZÓNIA - O NEGÓCIO DO MASSACRE

Radio Roménia

O assassinato de Amílcar Cabral no plano internacional

Dizia Kissinger em Dezembro de 1973: "...não há solução excepto tirar-lhes os territórios", embora não dizendo a quem.
Será que a morte de Amilcar Cabral, fazia parte deste plano ???
A par da luta de libertação dos povos das colónias, a burguesia portuguesa já estava a ter muitas "baixas"  e "carreiras de sonho" destruidas pela guerra.
Esta situação, levou a que esta mesma burguesia (ou classe média, como queiram), em certa medida tomasse a dianteira em Portugal e na Guiné para acabar com a guerra colonial, dando corpo ao Movimento dos Capitães.
Facto que embora não tivesse sido por completo uma supresa para os americanos (CIA), foram acontecimentos militares com uma gestação muito rápida, suportada em experiências golpistas anteriores e um maior nivel de politização dos seus membros..
O acentuar das contradições entre os graduados do QP e os Oficiais Milicianos facilitou o processo.
Ou seja o sr. Kissinger deu um tiro nos pés.
 
no sitio "Visão News"
 
Serviços Secretos dos EUA liberam documentos sobre morte de Amílcar Cabral
Por VNN Staff / VOA
Publicado Thursday, December 25, 2008
Menos de um mês após o assassinato de Amílcar Cabral os Estados Unidos concluíram que Portugal não esteve directamente envolvido na sua morte, revelam documentos oficiais tornados públicos Segunda-feira.

Contudo os "Serviços de Informações e Investigação" do Departamento de Estado concluíram também que a "cumplicidade de Lisboa" no assassinato do dirigente nacionalista "não pode ser excluída".

Os documentos agora tornados públicos incluem telegramas, minutas de reuniões ao mais alto nível do governo norte-americano e ainda propostas sobre a politica a seguir por Washington face à deterioração da situação militar na Guine Bissau e Moçambique.

Amílcar Cabral foi assassinado a 20 de Janeiro de 1973 em Conackry e a 1 de Fevereiro aqueles serviços dos Departamento de Estado disseram num relatório que "a maior parte dos sinais indicam ( que o assassinato de Cabral foi resultado) de um feudo entre mulatos das ilhas de Cabo Verde e africanos do continente", acrescentando contudo "haver sinais de envolvimento português".
O documento refere a "fricções de longa data" de carácter racial dentro da organização chefiada por Cabral ( o PAIGC) e também a "oposição esporádica dura dos seus comandantes militares que se irritavam com os limites por ele imposto à actividade militar na Guiné portuguesa e à continua subordinação dos militares aos objectivos políticos".

A nota descreve como "problemática" as confissões tornadas publicas de elementos envolvidos na morte de Amílcar Cabral que culparam Portugal pelo assassinato, mas acrescenta que "na base daquilo que sabemos a cumplicidade portuguesa não pode ser excluída".

Os documentos agora tornados públicos revelam ainda que a diplomacia norte-americana se encontrava a par de planos do PAIGC de declarar a independência da Guiné-Bissau nas zonas libertadas do território (o que veio a acontecer em Setembro de 1973) e ainda que face à deterioração da situação militar Portugal esteve envolvido em contactos com representantes do movimento de libertação nesse ano.

Numa nota enviada ao Departamento de Estado a 11 de Setembro de 1973 a embaixada norte-americana em Lisboa informou ter sido informada por "fonte de confiança" que houve contactos "no passado" entre o PAIGC e Portugal e que "de momento o PAIGC está envolvido em conversações com representantes portugueses em Paris".

O PAIGC declarou a independência da Guine Bissau em 24 Setembro de 2003 colocando enormes problemas diplomáticos aos Estados Unidos face à possibilidade do novo país pedir a sua adesão à ONU. Um estudo dos "Serviços de Informações e Investigação" do Departamento de Estado datado de 5 de Outubro de 1973 diz que o PAIGC controlava na altura "aproximadamente um terço do território" e avisa que o PAIGC irá pedir a adesão do país à ONU "ainda este ano ou no próximo".

"Os Estados Unidos terão então que fazer face à decisão política de vetar ou não no Conselho de Segurança a admissão (da Guine Bissau). Um veto sem outro apoio por parte dos Estados Unidos causará grandes danos às relações dos Estados Unidos com muitas nações africanas," diz o documento.

Em Dezembro de 1973 o então secretário de estado Henry Kissinger presidiu a uma reunião em que a situação foi discutida e em que Kissinger e outros destacados funcionários manifestaram a sua irritação face à inflexibilidade de Portugal na questão colonial.

No encontro o então sub secretário de estado para questões politicas, William Porter queixa-se amargamente que "o problema é que eles (os portugueses) não nos dão nada com que possamos trabalhar".

"Não nos dão nada para que os possamos defender. Não nos dão uma única coisa. Falam muito," disse Porter.

Kissinger afirma a certa altura que "não hà solução excepto tirar-lhes (os territórios)".

O então secretário de estado afirma que ninguém "se deve enganar" em pensar que Portugal aceitará abandonar as suas colónias.

"Se queremos tomar uma decisão política que os queremos forçar a abandonar Angola e Moçambique então muito bem…se não sabemos para onde queremos ir então não vamos a lado nenhum. Consultas não vão levar os portugueses a abandonar Angola e Moçambique. Eu sempre assumi que o único meio que os forçará a sair de Angola e Moçambique é os africanos tornarem as coisas tão quentes que eles sairão. Antes disso não sairão. Falar com eles não os vai levar a sair," acrescenta Kissinger que irritadamente rejeita mais consultas com Lisboa sobre a questão afirmando poder "fechar num envelope " as respostas dos portugueses antes de efectuar mais conversações.

O então secretario de estado rejeita no entanto o argumento de que a politica portuguesa esta a afectar as relações de Washington com o grupo não alinhado afirmando que essa organização "é não alinhada na sua oposição a nós"

Kissinger defende no entanto nesse encontro que os Estados Unidos deveriam tomar uma decisão política "para tentar levar os portugueses a saírem (de África) o mais rapidamente possível, usando o argumento que esse é o melhor meio para preservar os vestígios da sua posição".

"Se seguirmos isso, isso é uma posição razoável … é um ponto de vista político perfeitamente legítimo. Mas não vai avançar só através de consultas," disse Kissinger para quem Portugal tinha duas opções "aguentar o mais longo possível ou tentar sair o mais rapidamente possível" afirmando que na sua opinião o "meio de sair é seguir a via que De Gaulle escolheu" quando decidiu abandonar a Argélia.

Cinco meses depois o golpe de estado de 25 de Abril de 1974 evitou que Washington tivesse que tomar uma "decisão política" quanto às colónias portuguesas.

26 dezembro 2010

Cuba - Pastorita Núñes

   Em consequência de uma hemorragia cerebral, faleceu na capital cubana a destacada revolucionária, Pastorita Núñes, colaboradora do líder da revolução cubana Fidel Castro.
   Pastorita Núñes, nasceu a 27 de Abril de 1921, em Pocitos, na cidade de Havana.
   Órfã de mãe ao cinco anos, aos doze, em Agosto de 1933 participou com o seu pai numa manifestação popular contra a tirania de Gerardo Machado e dois anos depois conheceu Eduardo Chibás, lider do Partido Ortodoxo, onde militou.
   Foi activa combatente clandestina nas fileiras do “Movimento 26 de Julho” e fundadora da Frente Cívica das Mulheres Martianas.
   Como guerrilheira na Sierra Maestra, alcançou o grau de primeiro tenente do Exército Rebelde.
(em 'CubaDebate' contra o terrorismo mediático)

22 dezembro 2010

Contrainformacão na Globalização


(México - Comandante Marcos)

O que o colonialismo ignorou e escondeu

   Ao colonialismo, e seus homens de mão, nunca interessou, mesmo em última análise a pacificação da situação.
   Somente um, viria a perceber que perante a degenerescência do governo em Lisboa e o aprofundar das contradições internas da própria ‘máquina militar’, mais o isolamento internacional a que o governo de Lisboa já estava votado, poderia vir a ser o ‘Senhor’ daquela parcela territorial em África. António Spínola.
   Eles (os da altura) e ainda hoje, os reminescentes saudosistas, que não perceberam, não percebem nem perceberão, que seria assim com ou sem 25 Abril.
   Esquecem, ou fingem não conhecer factos, de lutas de libertação em vários locais do Globo, levadas a cabo mesmo contra a chamada maior potência militar do mundo, sendo visiveis hoje, os resultados e consequências.
   Não é por acaso, que chamavam à Guiné Bissau, o ‘Vietnam português’, um território tão pequeno, que causou mais baixas que qualquer outra colónia, em termos relativos, ao exército português.
   Alguns daqueles estagnados saudosistas defendem, que Portugal seguia a moda colonial de outros países europeus. Mas escondem (escamoteiam) que por outro lado o governo de Lisboa não quis, não sabia como, sem perder a face, seguir no minimo, os exemplos de descolonização dos mesmos países.


   Cabe aqui esclarecer, os que entendem que a utilização do francês pelos naturais da Guiné Bissau, era uma afronta ao exercito, (na altura da independência) o seguinte:
   Para além dos dialectos locais, os crioulos, o português, a língua francesa era a utilizada por condicionantes (e naturalmente influencia) de comunicação política com o exterior. Em razão dos países circundantes utilizarem o francês.
   Contudo, Portugal com séculos de colonização, e permanência intensiva durante dez anos, não anulou o analfabetismo, nem um ponto. Mantendo a população na ignorância absoluta.

Sem Palavras - Rua Antº Maria Cardoso, Lisboa, Portugal

(fotos livres, do editor)

17 dezembro 2010

Teias de uma Conspiração - Amilcar Cabral



Conspiração contra Cabral


   Como Cabral foi abatido - O verdadeiro cérebro da conspiração
   O papel dos três grupos de conspiração - Os conjurados com Sékou Touré - A traição de Rafael Barbosa, primeiro presidente do PAIGC, em Bissau
   A infiltração inimiga nos serviços de segurança e nas telecomunicações
  Conakry controlada em 30 minutos - Perseguição no mar - A captura dos rebeldes       - O fracasso do putsch
   
  Após o assassinato de Amílcar Cabral  "Afrique-Ásie" foi o único jornal internacional autorizado pelos guinéus a proceder uma investigação no próprio local. Em Conakry, o nosso enviado especial Aquino de Bragança viveu durante três semanas com os dirigentes do PAIGC, aos quais se tinham reunido os comandantes do interior. Seguiu de perto os trabalhos da Comissão de inquérito preliminar durante o qual foram interrogados 465 pessoas, 43 acusados de participação, 9 de cumplicidade, 42 não ilibados de suspeitas.

   A 15 de Janeiro último, Amilcar Cabral, Secretário-Geral do PAIGC, regressa a Conakry, vindo de Accra, onde assistiu a uma reunião do Comité de Libertação da OUA.
   Graças à ajuda fraternal do Partido e do Governo Guinéus, os combatentes do PAIGC dispõem livremente duma base de retaguarda na Guiné, dispondo entre outros na capital, de serviços, residências e facilidades portuárias para a sua flotilha.
   Portanto, ao chegar nesse dia a Conakry, Cabral constata com espanto que uma das barcaças do PAIGC, que deveria ter-se dirigido para a Guiné Bissau com um carregamento de armas para as regiões libertadas, se acha ainda no seu ponto de amarração.

   O Comandante Joaquim Costa oficial da vedeta que deveria rebocá-la é convocado.
   " Porque não executou as directivas do conselho de guerra ?
   - O motor do barco está avariado.
   Apresse-se, insiste Cabral. Os comandantes do interior esperam as armas para o desencadear duma ofensiva decisiva. "

   Mas, de facto, a contagem regressiva já começara.
   Joaquim da Costa faz parte da conspiração. Espera as instruções do seu cúmplice, Inocêncio Kanny, outro comandante de vedeta. Sabe qual será a sua missão
   Com efeito no início de 1973, ano decisivo, segundo os planos dos colonialistas portugueses, todos os peões se encontram no seu devido lugar.
   A PIDE-DGS (serviços secretos portugueses) infiltrava-se por toda a parte, já há vários anos, para contratar agentes guinéus e introduzi-los no movimento de resistência. Aventureiros, prisioneiros enganados, velhos militantes cansados, aborrecidos e descontentes... Claramente, não são em grande número relativamente à totalidade dos combatentes e dos seus quadros. O que é grave é a ascensão de alguns a postos essenciais, por vezes até a responsabilidades importantes. O que é mais grave é que conseguiram enganar a confiança da direcção do Partido e do seu Secretário Geral.

    FARÓIS NA NOITE


   Nessa noite de sábado, 20 de Janeiro, Joaquim Chissano, membro membro do Comité Executivo da FRELIMO, de passagem por Conakry, dá uma conferência na Escola de quadros do PAIGC. Naturalmente esse facto reterá, à noite, grande número de militantes e responsáveis.
   Todavia, Cabral não estará presente. Ele e a sua mulher estão numa recepção na Embaixada da Polónia. Aristides Pereira, seu adjunto, também não estará na conferência. Permaneceu no seu gabinete, onde espera o regresso de Cabral, previsto para as 23 horas.
   É mais ou menos a esta hora que Cabral, acompanhado por sua esposa, Ana Maria, deixa a Embaixada da Polónia ao volante do Volkswagem que conduz habitualmente.
   O militante africano está bastante calmo nessa noite. Os comunicados mais recentes das frentes interiores confirmam que as tropas do PAIGC, conservam a iniciativa dos combatentes.  As recentes modificações introduzidas nas estruturas da direcção do Partido pelo Comité Executivo de Luta, reunido em Boké (Guiné-Conakry), vão permitir dar uma força nova à ofensiva. A última reunião da OUA foi favorável aos combatentes guinéus. E, sobretudo, a Assembleia Popular, recem-eleita nos territórios libertados, vai proclamar a soberania da Guiné. Inúmeros Estados africanos e outros, prometeram um reconhecimento imediato.

   A estrada de Patoma está tranquila e o Volkswagem desliza na noite. A residência é já ali, próxima. Mas, de súbito, o condutor é encadeado pelos faróis dum automóvel. Cabral admira-se e ao reconhecer um jeep do Partido, para o seu carro e sai.
 " Que se passa ?"

   Do veículo militar saem três homens que apontam as sua armas ao Secretário Geral. O que aparentemente dirige a operação é bem conhecido de Cabral. É Inocêncio Kany, um veterano, que foi um dos comandantes da marinha, é certo que teve, mais tarde uns problemas....
 " Segue-nos ", diz Inocêncio Kani.
   Cabral  recusa e chama a guarda que deve vigiar a sua residência.
   Já não há guarda.
   Nabonia, chamado "Batia", membro da guarda pessoal do Secretário Geral, tinha informado os conjurados do programa da noite. Eles sabem que Cabral está sozinho; que Pereira o espera no seu gabinete e que os outros militantes estão retidos na conferência dos Moçambicanos.
   " Entra, repete Inocêncio, senão levamos-te à força. ".
   Um dos agressores avança com uma corda.
   “ Não me levem assim, diz Cabral diz,. . Nunca ninguém pode amarrar-me... E nunca aceitei que outros fossem amarrados... Nós combatemos precisamente para quebrar as cadeias...”
   O medo e a perturbação surgem na face de Kani. Mas é demasiado tarde.
   Por um momento, hesita depois, levanta a arma e dispara, quase à queima-roupa.
   Atingido no fígado, Cabral abate-se na estrada sangrando abundantemente.
   Então Inocêncio Kani desaparece por momentos, certamente para informar os seus cúmplices do desenrolar dos acontecimentos.
   Todavia, da estrada onde a mancha de sangue alastra ergue-se Cabral. O homem não morreu. O chefe está ainda lúcido.
   Dirige-se aos outros dois, imóveis, para uma última tentativa.

     ACABEM COM ELE


   “ Porquê , camaradas ?  Se há divergências, é necessário discutir... O Partido ensinou-nos... “
  - Como ? Ainda falas ? “, resmunga Kani que regressa de súbito.
  Faz um sinal:
  “ Acabem com ele !  Rápido. “
   Uma curta rajada. Cabral tomba, atingido na cabeça. Morto. Ana Maria, aterrorizada e impotente, seguiu toda a cena de dentro do carro onde tinha ficado.
   “Levem-na para a “Montanha”, ordena Kani.
   A “Montanha”, é a prisão do PAIGC. O jeep arranca a toda a velocidade.
   Outras acções se tinham já encetado. Pouco antes das 11 horas, os conjurados tinham surpreendido e aprisionado Aristides Pereira, secretário geral adjunto, que trabalhava no seu gabinete.
   È Mamadou N’Dyaye em pessoa, membro dos serviços de segurança e chefe dos guardas, que aprisiona e amarra.
   E enquanto vários detidos – responsáveis importantes da insurreição – são libertados, Ana Maria e outros dirigentes fieis, como Vasco Cabral e José Araujo, são aprisionados.
   “ Sereis fuzilados às 6 horas da manhã “, dizem-lhes os rebeldes.
   De momento têm muitas coisas a fazer. Tanto mais que o plano começa a falhar.
   Com efeito, as ordens não eram para matar Cabral mas para raptá-lo e transportá-lo para Bissau.
   E os tiros devem ter sido ouvidos algures.
   Inocêncio retoma o caso em mão.
   Aristides Pereira, amarrado, tinha sido metido numa viatura que se dirige para o porto. Todos os veículos do PAIGC estão providos duma placa especial (F F) que lhes permite, nos termos dum acordo com os dirigentes de Conakry, circularem livremente. As barreiras do exército, da polícia e da milícia guineense são, pois, passadas sem dificuldade.
   Inocêncio Kani chega então ao porto e verifica que as suas ordens foram executadas.
   Pereira foi transferido para a vedeta nº4 – comandada por Joaquim Costa – que aparelhou, todas as luzes apagadas, e reboca uma barcaça carregada de armas.
   O assassino de Cabral toma o comando da vedeta nº7 e larga do porto acompanhado pela nº5.  A flotilha fez-se ao largo. Os serviços do porto guinéu conhecem-nos bem e não intervêm.
   Todavia, em terra, os tiros tinham sido ouvidos. O comandante Osvaldo Vieira, membro do Conselho de Guerra, que reside próximo do local, pega na sua arma. Chega também uma enfermeira. Vê o corpo de Cabral. O pulso já não dá sinal.
   “ Está morto “ diz ela.
   Na atrapalhação, recolhem os óculos do dirigente e um papel, uma carta que ele tinha começado a escrever à filha... e notas para uma obra que preparava.
   Só duas horas depois Ana Maria e os seus dois companheiros serão libertados.
   Mas o presidente Ahmed Sékou Touré está corrente da situação desde as 23h e 30m.  Quando um pouco mais tarde, Oscar Oramas, embaixador de Cuba,  telefona ao presidente para lhe dar a noticia do assassinato de Amílcar Cabral, aquele responde-lhe que já está ao corrente.
   Primeiro reflexo:  Sékou Touré ordena à direcção do porto que proíba qualquer partida.  Mas os responsáveis do porto informam que já tinham partido três vedetas do PAIGC.  É dada a ordem de perseguição. Simultaneamente, com uma rapidez exemplar, as forças guineenses bloqueiam a capital.
   À meia-noite Conakry está isolada. O exército entra de prevenção nas fronteiras. A força aérea levanta. São, aliás, os Mig duma patrulha e os radares de vigilância que descobrirão, de madrugada, os navios em fuga, ao largo de Boké.
   Costa, Inocêncio e os seus outros homens são presos.
   “ Onde está Aristides Pereira ?”  perguntam-lhes.
  - Já está algures em região libertada da Guiné-Bissau, respondem os traidores seguros de si.
  As autoridades guineenses não os acreditam, Está presente José Pereira, responsável pala região fronteiriça da Guiné-Bissau que acompanha o governador da região.
   É decidido revistar a barcaça de acompanhamento que está carregada de armas.  Perto do meio-dia, finalmente, Aristides Pereira é encontrado no porão, amarrado, as mãos parcialmente gangrenadas. Este confirma a intenção dos seu raptores de o darem “ de presente “ ao governador português, general Spínola.

      O GOLPE FRUSTADO


   Mas a conspiração tem aspectos múltiplos. Cedo se torna evidente a vastidão dos seus objectivos.
   Regressemos à noite dramática de 20/21 de Janeiro.
   Enquanto, na cidade e no mar, os acontecimentos se desenrolam, um grupo de conspiradores apresenta-se ao presidente Sékou Touré.
   No grupo, nomeadamente, estão Mamadou Touré, chamado “Momo”, e Aristides Barbosa tinham sido libertados nessa mesma noite da prisão onde se encontravam acusados de traição. Seus libertadores, os assassinos de Cabral. João Tomaz tinha sido acusado de comprometimento com os portugueses, condenado a dez anos de trabalhos forçados, foi amnistiado por ocasião do 25º aniversário do Partido. Soares da Gama, em liberdade provisória, estava em instância de julgamento por um caso de corrupção.
   À meia-noite, portanto, o grupo, conduzido pelo condutor Sana Kassama, apresenta-se no escritório de Sékou Touré.
   “Momo” é porta-voz do grupo.
   “Nós viemos para participar ao responsável supremo da Revolução, diz ele, que acabamos de assumir as nossas responsabilidades. Tornava-se necessário eliminar Cabral, matá-lo mesmo se fosse necessário, para salvar o nosso país.”
   “Os militantes de base, os comandantes do interior, designaram-me para isso, acrescenta ele afrontosamente, para assegurar a direcção do PAIGC.”
   Sékou Touré está grave.  A conspiração, monstruosa, apresenta-se-lhe claramente.
   “Não quero ouvir-vos agora”, diz ele. Convoca de urgência Samora Machel, presidente da Frelimo, que se encontrava em Conacry em visita oficial, e os embaixadores amigos da Argélia, M. Zitouni, e de Cuba N. Oscar  Oramas.
   “Momo” insiste:
   “O que se passou nessa noite, era inicialmente para me libertar da prisão.
   - Já vos disse que não vos quero ouvir agora. Esperem – interrompe o Presidente numa voz cortante.
   Os dados estão lançados. Cabral está morto, mas a cidade está isolada, a via marítima bloqueada, os principais conspiradores são detidos uns atrás dos outros. É a hora do ajuste de contas e do balanço. E também da lição que será necessário tirar e dar a África e ao mundo inteiro.
   E é assim que por iniciativa do presidente Sékou Touré, no dia 21 de Janeiro, poucos minutos depois da meia-noite, a comissão de investigação preliminar se reúne em Conacry.
   Reúne os responsáveis pela Frelimo, pelo Partido Democrático da Guiné (PDG),
aos quais se viriam a juntar os embaixadores de Cuba e da Argélia. A comissão
seria mais tarde alargada a outros países.
   Os traidores, desmascarados, vão falar doze horas ininterruptamente.
   Como era de esperar, os principais acusados negam qualquer conluio com os portugueses. Mas os outros falam. A confissão de Valentino Mangana descobre o plano maquiavélico de Lisboa.
   Estabelece de forma precisa o processo de organização e de aplicação de diversos métodos de subversão visando, não a eliminação do secretário geral do PAIGC mas antes a liquidação do movimento.
   Com efeito, ele explica que as autoridades coloniais portuguesas lhe tinham dito o seguinte:
  “ Portugal está pronto a conceder a independência aos Negros da Guiné-Bissau na condição de:
  -   Primeiro, o PAIGC ser eliminado.
-         Segundo, todos os cabo-verdianos sejam excluídos de todo o movimento nacionalista, porque Portugal tenciona conservar as ilhas de Cabo Verde, que constituem, para si e seu aliados, uma base estratégica de importância capital.
-  Assim os Negros devem desembaraçar-se de todos os Mestiços. Isto feito, Portugal constituirá um governo composto por todos os que tiverem cumprido eficazmente esta missão. As forças portuguesas recuarão para as linhas de Cabo Verde e cooperarão com os Negros da Guiné-Bissau no sentido de lhes assegurar protecção.”
   Mangana precisa que alguns dirigentes não permaneceram indiferentes a esta promessa dos colonialistas portugueses, consequentemente, organizaram-se para a execução das tarefas que lhes estavam destinadas.
   São, então, organizadas infiltrações nas fileiras do PAIGC. Agentes (negros)  da PIDE/DGS, que se apresentam como desertores do exército colonial e como nacionalistas convictos, são utilizados para este efeito.
   Este testemunho de Mangana é confirmado e completado pelo de Lansana Bangoura, outro aderente de última hora, que explica os detalhes dum plano de agressão preparado, simultaneamente, contra a República da Guiné as Repúblicas da Tanzânia e da Zâmbia. Estava previsto o fomento de desordens nos três países, a favor da acção subversiva dos traidores infiltrados no PAIGC, na Frelimo e no MPLA.
   Aproveitando a confusão assim criada nos três países, estavam previstos  ataques aéreos, marítimos e terrestres.
   Simultaneamente, as forças portuguesas deveriam desencadear uma grande ofensiva contra as regiões libertadas da Guiné-Bissau, de Moçambique e de Angola.
   Na estratégia do fascismo português, o ano de 1973 era considerado como ano decisivo para a liquidação dos movimentos de libertação nacional.
   Eis “Néné”, um dos responsáveis pelas telecomunicações do “PAIGC ! Colocado ante a evidência, confessa que já tinha comunicado por rádio, para Bissau, a liquidação do “homem grande” (Cabral). A sua confissão prova indubitavelmente que os conjurados eram totalmente manipulados pelos serviços portugueses  e que Mamadou Touré, “Momo”, era, ao que parece, o seu delegado em Conakry.
   Um outro traidor, Nabonia, chamado “Batia” era membro da guarda pessoal de Cabral. Ele é que tinha fornecido aos assassinos o programa de uns e de outros para a noite fatal. Ele próprio pede que as suas declarações sejam gravadas.
   Cita os nomes dos seus cúmplices, precisa as ligações com os serviços de Spínola.
   No dia seguinte, após ter almoçado, sob forte guarda, com os seus companheiros de prisão pede para ir ao lavabos. Ao chegar junto de um sentinela, salta bruscamente sobre o miliciano que atira pela janela, apodera-se de uma espingarda “AK” que vira contra si e dispara. Morre no hospital.
   Inocêncio Kani, o assassino de Cabral, preso, ele também, no mar com os 21 homens que lhe tinham obedecido, confessa procurando desculpas ridículas:
  “ Abati Cabral, diz ele, porque ele tinha levado a mão ao bolso para tirar a pistola.” (Cabral não estava armado nesse dia). Não devíamos matá-lo, precisa.
   A sua motivação ?  È necessário procurar na sua vida agitada. Professor católico, aderira ao movimento nas vésperas do desencadear da luta armada. Nele assume responsabilidades. Mas, após  alguns anos de luta, o homem estava gasto. Já não estava à altura da sua missão. È Cabral quem insiste em 1967 com essa preocupação de salvar os homens que sempre o animou – para que Inocêncio seja chamado a outras tarefas: reforçar a marinha da Guiné-Bissau. Segue-se a Academia Naval soviética, para onde é enviado em estágio, o regresso à frente de um comité tripartido que dirige a Marinha, à entrada no comité executivo de luta.

   OS VERDADEIROS CONSPIRADORES



   Em 1971 é a queda. È excluído, por unanimidade, do comité executivo e é ao mesmo tempo censurado por se ter envolvido na venda de um motor naval, Inocêncio nega. É aberto um inquérito suplementar. Entretanto, Cabral confia-lhe provisoriamente  o comando de uma vedeta.
   É este o homem que o vai matar.
   Todavia, ele é apenas o braço armado pelos conspiradores. O braço que era comandado pelo principal executante, enviado dezoito meses antes de Bissau para Conacry: Mamadou Touré, chamado “Momo”.
   Este antigo empregado de bar, tem hoje 33 anos, foi membro do comité do PAIGC antes do inicio da luta armada. A 13 de Março de 1962, “Momo” é preso pela Pide em Bissau.
   Era então um activista corajoso e responsável pela 3ª zona da capital e agente de ligação com a direcção estacionada em Conacry, na República da Guiné.
   Sumariamente  julgado por um tribunal português, “Momo” é condenado de trabalhos forçados e enviado para o sinistro campo do Tarrafal – ilha de Santiago, no arquipélago de Cabo-Verde. Aí encontra um personagem que vai desempenhar um papel decisivo na sua futura carreira de...traidor.
   È Aristides Barbosa, 30 anos, um agente português introduzido no campo de concentração de Tarrafal para conseguir a confiança dos nacionalistas. Perito em acção psicológica, mostra-se muito activo e realiza um trabalho intenso de educação política, de luta contra o analfabetismo entre os detidos do PAIGC que se encontravam no campo. Depressa se torna amigo de “Momo” que consegue recrutar para os serviços secretos portugueses.
   “Amnistiados” pelo governador Spínola em 1970, “Momo” e Aristides Barbosa regressam a Bissau para se colocarem à disposição das autoridades portuguesas. E é em Bissau que “Momo” reata os seus contactos com o personagem mais importante do caso: Rafael Barbosa (homónimo de Aristides Barbosa, mas sem nenhum laço de parentesco).
   Quem é este último ?  Como e porquê este primeiro presidente do PAIGC se aliou aos portugueses e aceitou participar na conspiração ?  Filho de um cabo-verdiano  e de uma guineense, Rafael Barbosa, dito “Zain Lopes”, é capataz de obras públicas quando adere ao PAIGC nos primeiros tempos de luta. Em breve é agregado à presidência do comité central de então. Posto honorário, sem dúvida, mas nem por isso ele deixa de ser um dos seus chefes históricos. É corajoso, activo, próximo de Cabral.
   Em 1962, é preso pelos portugueses. Durante sete anos o seu comportamento na prisão será, aparentemente, exemplar. Mas é amnistiado em 1969. E ei-lo que adere à política de colaboração com o ocupante, aquilo a que este chama “política da Guiné melhor”   fabricada pelo governador português Spínola.
   De facto, Rafael Barbosa tinha sido “desviado” durante a sua detenção. Tinha-lhe sido prometida a direcção do país quando este fosse tornado “autónomo” no quadro da comunidade portuguesa. E quem sabe, ter-lhe-iam dado a entender que, um dia, ele poderia conduzir o país a uma espécie de “independência” concedida sobre o controle neocolonial de Lisboa, na condição de renunciar às ilhas de Cabo Verde.  Com esta intenção, Spínola constitui à socapa em Bissau, uma organização fantoche dita frente unida de libertação (FUL) sob a direcção de Rafael Barbosa.
   Com Rafael Barbosa, “Momo” estabelece, sob a direcção dos serviços secretos portugueses, os detalhes minuciosos da conspiração destinada a derrubar a direcção do PAIGC, a substitui-la e a “negociar” com Lisboa a “independência”  da Guiné Bissau.
   Neste sentido, era necessário que “Momo” e seu cúmplice, Aristides Barbosa, alcancem Conakry, se infiltrem no seio do PAIGC, recrutem partidários entre os corrompidos e os ambiciosos e, com o apoio de  numerosos “desertores” que deveriam aderir ao PAIGC por ordem do  general Spínola, preparar e executar o plano traçado em Lisboa e Bissau.
   Foi o que “Momo” e o seu cúmplice fizeram em Agosto de 1971.
   “ Spínola queria prender-me novamente”, pretende “Mono” desde a sua chegada a Conakry para justificar a sua presença inesperada.
   Cabral recebe-o de braços abertos e manda-o repousar num país socialista.
   Quando regressa, “Momo” dá uma conferência  sobre a sua vida no campo do Tarrafal, na escola de quadros do partido, e conclui com um elogio a Rafael Barbosa, homem integro, diz ele decerto, ele fez declarações em favor dos portugueses, mas em condições difíceis:  “ Não devem ser tomadas, diz “Momo”, à letra porque eu sei que ele continua a ser o patriota que sempre foi.”
   Esta tentativa de reabilitação do ex-presidente do partido, o qual anteriormente, tinha sido severamente condenado pelos militantes, tem um efeito de uma bomba.
   Todavia, Cabral não atalha:
   “Rafael diz,  foi um homem corajoso. Conheço-o bem, o seu comportamento na prisão foi muito digno. Portanto, é necessário esclarecer esta ambígua antes de tomar uma posição definitiva sobre o seu caso.”
   Mas “Momo” continua a sua acção de desmobilização, de subversão.
   Ele é malinké e muçulmano. Aos responsáveis fulas e mandingas, que constituem a minoria muçulmana, ele diz que os balantas, aliados aos cabo-verdianos, são um perigo para o Islão.

   O CHEFE DOS GUARDAS


   Em reuniões, frequentemente semi-clandestinas, ele opõe os guinéus aos cabo-verdianos: “Se Cabral não insistisse em tanto libertar Cabo Verde, após dez anos de luta, repetia incessantemente, estou certo que os portugueses renunciariam à Guiné Bissau e nós seriamos independentes....”
   Finalmente desmascarado pelos serviços de segurança do PAIGC em Junho de 1972 é preso, juntamente com o seu cúmplice e directo colaborador Aristides Barbosa. “Momo” confessa então ter contactado entre outros, Inocêncio Kani e Inácio Soares da Gama, dois responsáveis da marinha do PAIGC; com o objectivo de derrubar a direcção do partido. Mas estes dois últimos negam categoricamente as “calúnias” dum traidor que quer manchar a marinha. Acredita-se neles. Tanto mais que se tratava de oficiais que tinham combatido longamente de armas na mão contra o ocupante português. Além de que se sabia que “Momo”, pretendendo lançar a confusão tinha já, acusado muitos outros camaradas irrepreensíveis.
   Detidos na “montanha” aguardando julgamento, “Momo” e Aristides Barbosa prosseguem com os preparativos do pusch, os seus contactos com Bissau e com os seus cúmplices são mantidos graças à ajuda do chefe dos guardas: Mamadou N’Diaye.
   E isto até à noite fatídica de 20 de Janeiro de 1973

(documento destribuido em Lisboa sem identidade)