23 outubro 2012

FLECHAS PIDE



Os Flechas foram forças de operações especiais dependentes da Polícia Internacional de Defesa do Estado (PIDE) http://pt.wikipedia.org/wiki/PIDE, criadas, inicialmente em Angola, para actuar na Guerra do Ultramar.
Durante a Guerra do Ultramar, a PIDE (a partir de 1969, chamada Direcção-Geral de Segurança (DGS) era responsável pelas operações de recolha de informações estratégicas, investigação e acções clandestinas contra os movimentos guerrilheiros, em apoio das Forças Armadas e de Segurança. Como tal foi decido criar uma força especial armada para auxílio e protecção dos agentes da PIDE nas operações contra os guerrilheiros.
Os membros dos Flechas eram recrutados entre determinados grupos nativos, nomeadamente ex-guerrilheiros e membros da etnia bosquímana (khoisan). Os bosquímanos que historicamente tinham sido invadidos pelos povos bantu não tinham qualquer problema a aliar-se aos portugueses, dado que viam nos movimentos de libertação o bantu invasor do seu território. Estes eram especialmente escolhidos pelas seus conhecimentos do inimigo, conhecimento do terreno, conhecimento das populações locais, etc. Esses membros nativos eram enquadrados por oficiais do Exército Português e por agentes da PIDE e recebiam treino de forças especiais.
Com o decorrer da Guerra do Ultramar os Flechas revelaram-se uma das melhores forças anti-guerrilha ao serviço de Portugal, indo progressivamente alargando o seu tipo de actuação. Se no início eram basicamente usados como guias e pisteiros dos agentes da PIDE, passaram posteriormente também a ser usados como forças de assalto em operações especiais. Pelo reconhecimento do seu elevado nível de eficácia, as próprias Forças Armadas passaram a solicitar frequentemente à PIDE o auxílio dos Flechas nas suas operações.
Algumas das operações frequentemente realizadas eram as chamadas Pseudo-Terroristas, em que os Flechas, muitos deles ex-guerrilheiros, se disfarçavam de guerrilheiros inimigos, para atacarem alvos com características tais que não podiam ser abertamente atacados por forças identificadas como portuguesas (ex.: alvos em território estrangeiro, missões religiosas que auxiliavam terroristas, bases terroristas de difícil aproximação, etc.).
Os Flechas actuaram sobretudo em Angola. Na década de 1970 começaram a ser organizados Flechas também em Moçambique mas que não chegaram a ter uma importância tão elevada.
Organização e Equipamento
Foram inicialmente organizados pelo Sub-Inspector Óscar Aníbal Piçarra de Castro Cardoso no período que passou nas “terras do fim do mundo”- o Kuando-Kubango. Os Flechas estavam organizados em Grupos de Combate de cerca de 30 homens. Estavam equipados com o equipamento em uso no Exército Português, mas também utilizavam muito armamento capturado aos guerrilheiros, nomeadamente nas Operações Pseudo-Terroristas.
O seu item de fardamento mais conhecido era a Boina Camuflada que se tornou um dos seus símbolos.

 

20 agosto 2012

MILITAR PORTUGUÊS, AGENTE DA PIDE-DGS

Ponciano Soeiro era um agente da PIDE em Uíge.


O sargento Silva Soeiro, fugiu para a África do Sul em Setembro de 1975 junto com o impiedoso comandante Daniel Roxo, Robbie Ribeiro e Mourão da Costa , onde se integraram nas tropas de elite do regime do apartheid.

Daniel Roxo, Ribeiro e Mourão da Costa, fizeram várias incursões de matança ao sul de Angola após a independência deste país, integrados em forças mercenárias.

Silva Soeiro como PIDE experimentado comandou várias acções incluindo a designada 'Operação Savannah'.




20 maio 2012

AS TRÊS FASES DO PLANO PORTUGUÊS


AS TRÊS FASES DO PLANO PORTUGUÊS (*)     

 

     “ O objectivo principal do inimigo é destruir o nosso Partido, porque em África e em todo o mundo o seu prestigio e o prestigio dos seus principais dirigentes estão no auge.

        Ele está convencido de que a prisão ou a morte do principal dirigente significaria o fim do Partido e da nossa luta.

        Por isso mesmo, o objectivo real dos portugueses na sua tentativa de invasão da Republica da Guiné (Conakry), em 22 de Novembro de 1970, era o assassinato do secretário geral do Partido e a destruição da base na retaguarda da revolução constituída pelo regime de Sékou Touré.

        Numa palavra, destruir o Partido agindo no seu interior.

 

        O plano do inimigo fará-se-á em três fases:

 

            Primeira fase:

   Actualmente, muitos compatriotas abandonam Bissau e outros centros urbanos para se juntarem às nossas fileira. Nesta ocasião, o general Spínola espera poder introduzir agentes (antigos e novos membros do Partido) nas nossas fileiras.

   A sua tarefa: estudar as fraquezas do nosso Partido e tentar provocações apoiando-se no racismo, no tribalismo, opondo os muçulmanos aos não muçulmanos.

           

            Segunda fase:

   1. Criar uma rede clandestina (penetrando, por exemplo, no Partido e nas forças armadas;

   2. Criar uma direcção paralela, se possível com um ou dois dirigentes actuais do Partido (de entre os descontentes);

   3. Desacreditar o secretário geral, para preparar a sua eliminação no quadro do Partido ou, se a necessidade o impuser, pela sua liquidação física;

   4. Preparar nova “ direcção “ clandestina para fazer dela o verdadeiro organismo dirigente do PAIGC;

   5. Paralelamente, lançar uma grande ofensiva para aterrorizar as populações dos territórios libertados.

 

            Terceira fase:

   a. No caso de falhar a segunda fase, tentar um golpe contra a direcção do Partido, fazendo assassinar o seu secretário geral;

   b. Formar uma nova direcção baseada no racismo e opondo guineenses e cabo-verdianos, utilizando o tribalismo e a religião (muçulmanos contra não-muçulmanos);

   c. Entrar em contacto com o governo português. Falsa negociação, autonomia interna, criação de um governo fantoche na Guiné-Bissau que seria designado “Estado da Guiné” e faria parte da comunidade portuguesa;

   e. Postos importantes estão prometidos pelo general Spínola a todos que executaram o plano.

 

           Conclusão – Devemos reforçar a nossa vigilância para desmascarar e eliminar os agentes do inimigo, para defender o Partido e encorajar a luta armada. Assim poderemos frustrar todos os planos criminosos dos colonialista portugueses.

        O inimigo tentou corromper os nossos homens, mas a esmagadora maioria dos responsáveis contactados não aceitou vender-se, comportaram-se como dignos militantes do nosso Partido e contribuíram mesmo para castigar severamente os portugueses que tentavam comprá-los, como foi o caso dos quatro oficiais, próximos colaboradores de Spínola, liquidados no norte do país.”

 

(*) De um documento da autoria de Amílcar Cabral, distribuído em Março de 1972 aos quadros do PAIGC

 



Disposição dos corpos e viaturas

Três Majores e um Alferes

29 março 2012

A LONGA NOITE DA GUERRA COLONIAL

Moçambique




Angola


"Diário Noticias"  Jan/98


Guiné Bissau


Guiné Bissau
(Fotos c/créditos)

03 março 2012

ANGOLA; PORQUÊ SÓ LUANDA



Grupos de brancos movimentam-se pelas ruas de Luanda. Empunhando cartazes e bandeiras. Tudo natural se, muitas vezes, o objectivo não fosse o incitamento à violência.

Grupos de brancos, envergando camuflados, batem à porta das casas de adobe dos musseques. Fazem-no invocando o nome das Forças Armadas. A porta abre-se – o tiro parte.
Grupos de brancos incitam os brancos de Luanda à violência, através de uma bem cuidada campanha de boatos, de panfletos apócrificos. Outros, ou os mesmos, antes de começar esta segunda fase de guerrilha urbana, incitavam os negros a matar os brancos. Faziam-no nas tascas dos musseques, entre “cucas” e palmadinhas nas costas. Porquê ?.
Nos musseques, a FLNA agia por sua conta, no mesmo sentido. Apelos sucessivos à violência e ao racismo. A principio, com muito pouca audição. À medida que a excitação subiu, à medida que das noites pacificas se quebrou o silencio com tiroteios esparsos e rebentamentos de granadas, a FLNA mais e mais apoio. O medo, sempre o medo, foi a grande cartada sabiamente jogada. Por quem ?.


O Mov. Democrático de Angola e outros agrupamentos políticos lançaram a ideia de um comício no Estádio de S. Paulo bem dentro dos musseques, com o objectivo aberto de apoiar a declaração do reconhecimento do direito à independência de Angola feita pelo general  Antonio Spínola; mas, o verdadeiro objectivo era tentar reunir brancos e negros, já afastados pelos incidentes até então acontecidos, num mesmo comício.
O comício falhou porque as Forças Armadas destacaram apenas tropas brancas para montar a segurança ao estádio. Mas o objectivo foi atingido, porque centenas de brancos se deslocaram ao estádio de S. Paulo para demonstrar que queriam e podiam participar na vida de um país finalmente livre e na construção de uma sociedade finalmente justa. O comício realizou-se fora das portas do Estádio e – consequência da “frente” de Bukavu -  bandeiras do MPLA e da FLNA foram erguidas em conjunto.


A reacção branca aproveitou a ocasião para lançar uma bem orquestrada e meticulosamente preparada campanha destinada ao lançamento da UNITA em Luanda.
Inventou-se um incidente no Bairro do Golfe – negros tinham rasgado, à frente da tropa e de um oficial, a bandeira portuguesa e hasteado em seu lugar a bandeira do MPLA. Começaram a circular novas histórias de violência cometidas contra brancos. Os comerciantes e outras gentes desorientadas correm ao Palácio do Governo Geral, que invadem literalmente. O vice-almirante Rosa Coutinho corre risco físico. Entretanto, cerca de quarenta manifestante brancos apresentam-se frente à sede da Polícia  de Segurança Pública para demonstrarem apoio a esta corporação, cujo saneamento foi anunciado superiormente há bastante tempo. Em volta deles começa a juntar-se mais gente, muitos policias desfardados. A manifestação acaba por se transformar numa manifestação de apoio a Jonas Savimbi, chefe da UNITA. “ Os brancos estão com Savimbi” – lia-se em cartazes. Os policias, das varandas do primeiro piso do edifício, juntam as mãos em agradecimento e erguem-nas acima da cabeça. Era o cair da tarde. Chegam viaturas com fuzileiros de camuflado. A multidão, umas mil pessoas incluindo os mirones – mas logo volta a avançar para ouvir um oficial da PSP, através de um megafone, pedir civismo e calma e dizer  “que não é assim que se lhes dá força”. Um oficial da policia, à civil, encaminha a manifestação para o Palácio.

A célebre Casa do Povo na Av. Brasil, local onde se iniciaram quase sempre as mais graves provocações ao povo angolano, guardada por um guerrilheiro ELNA , Exército da FLNA, antes da sua "conquista" e do fim do terror, processo em que as FALA, forças da UNITA, não intervieram, à semelhança do que tem acontecido quase permanentemente.
Ouvem-se gritos de “Viva a UNITA”, de “Viva Portugal” de “Viva Angola independente”, de “Viva a policia”. Elementos estrategicamente colocados controlam, tanto quanto possível, os manifestantes. Antes duas moças de cor e um jornalista que tiravam fotografias  são obrigados a refugiarem-se numa livraria, que fecha as portas para impedir depredações. O jornalista seria sovado, brutalmente, depois, dentro da sede da PSP, por elementos vestidos à civil. Hoje, é um “homem marcado”: quando sai à rua é reconhecido e agredido. Chama-se Manuel Rodrigues Vaz e é redactor de “O Comércio”.


Uma das duas moças seria agredida também, depois de sair da Policia. Começa a “caça aos MPLA”. Manifestantes voltam a cercar o estúdio do programa de radio independente “Café da Noite”; há uma tentativa de invasão de “A Província de Angola” (!); a Emissora Oficial é cercada por cerca de 300 brancos. Cortejos de automóveis, buzinas, gritos à UNITA, bandeiras portuguesas. O presidente da Junta Militar decreta, pela primeira vez em Angola e em Luanda, o recolher obrigatório. Os manifestantes desrespeitam-no. Continuam a percorrer as ruas asfaltadas, até à uma e meia da manhã. Impunemente.
Nessa noite, começa a nova série de incidentes nos musseques. O FLNA aproveita, por sua vez, a ocasião para aumentar a onda de violência. Os quadros do MPLA desfalcados tentam impedir o alastramento do conflito. A população pacifica dos musseques vê-se entre o fogo das Forças Armadas, dos “comandos” de contenção do MPLA. Tiroteios esparsos, rebentamento de granadas.
Na manhã seguinte, a cidade do asfalto acorda com propaganda à UNITA escrita em todos os cruzamentos importantes, grandes letras de cal, no chão. Manifestantes brancos cometem toda a sorte de tropelias, bem dentro da cidade branca. Mandam evacuar e fechar restaurantes e lojas e industrias. O Poder, naquela manhã, estava praticamente caído nas ruas.
No Hospital de S. Paulo volta a haver trabalho de emergência. Feridos às centenas, mortos menos. Quase todos negros. A clivagem está conseguida: brancos de um lado, negros de outro. O desprestigio do MPLA, sabiamente orquestrado, acentua-se: a população branca cai nos braços da UNITA, que já conseguira milhares de adesões no Sul de Angola, acolhe “desertores”, em massa, das tropas negras “Ges”, milícias armadas e do “exército privado” da ex-PIDE/DGS/PIM,  os “Flechas”.


Informações não controladas, portanto apresentadas ainda com reservas, dizem que a UNITA está a receber quantidades industriais de armamento da África do SUL. O dr. Jonas Malheiro Savimbi, aproveitando-se inteligentemente dos desacordos internos dentro do MPLA joga a sua cartada e ganha. A UNITA tem o apoio das associações económicas de Angola. Aparecem em Luanda panfletos apócrifos (a assinatura do MPLA sob eles é, obviamente falsa) dizendo que a carne de branco é excelente.


Os musseques estão praticamente em pé de guerra. Erguem-se barricadas. Os comerciantes vêem as lojas incendiadas e algumas delas pilhadas. São avisados, com antecedência, para se porem a andar. Eles e outros elementos da população branca são o braço armado da reacção. Delegações ao Palácio, manifestações nas ruas – sempre pouco numerosas - , insultos aos negros, o insulto aberto, a ameaça aberta...
Começam a ouvir-se tiros também durante o dia. O medo cresce. A desconfiança cresce. A convivência entre negros e brancos começa a tornar-se num mito. O FLNA engrossa as suas fileiras com simpatizantes do MPLA. Nos subúrbios acontece exactamente o mesmo que na cidade branca. Campanha de desprestigio das Forças Armadas, nem sempre a actuar com decisão e a oportunidade que se impõe, leva os negros a armarem-se com armas rudimentares.
Além destas, alguém fez “aparecer” pistolas, carabinas e pistolas-metralhadoras. Poucas ainda. Mas suficientes. Continua a morrer gente. Feridos continuam a chegar ao Hospital de S. Paulo, este mesmo, alvo de tiroteio por atiradores emboscados, durante duas noites seguidas. Luanda está à beira do pânico. Tanto a Luanda do asfalto como Luanda do subúrbio, donde todos os dias qualquer coisa como mil famílias partem para  “a terra”.


O “volte-face” da situação parece ter começado agora. Os dias e as noites a aparecer mais calmas, embora os tiroteios esparsos continuem a registar-se. Um avião especial leva comerciantes e suas famílias para Portugal. Reabre-se o campo de concentração de S. Nicolau, para acolher prisioneiros de delito comum. (O director deste campo, contra quem impedem gravíssimas acusações, fugiu da cadeia e continua a monte e a prémio !).


Tropas especiais vindas de Lisboa, fuzileiros e “comandos” com ordem para se deixarem de meiguices começam a controlar a situação delicadíssima. Criada por quem ? Pelo que se disse, transparece um planeamento cuidadoso. Quem o guisou ? Por enquanto, apenas suspeitas.
Ainda é cedo para dizer se a calma voltará a Luanda, se será possível começar, se será possível pôr cobro ao ódio tão cuidadosamente ateado. Luanda está à beira do abismo. Ainda é possível que tudo volte à normalidade ?.


FOTOS DE: Oscar Saraiva
                     J. P. Laffon

TEXTOS DE: Moutinho Pereira
                       António Macedo

Datas: Agosto de 1974 e   Julho de 1975