29 dezembro 2010

Cidadão, Militar e Terrorista na reforma, mas exemplar

Alpoim Calvão, o chefe operacional do ELP/MDLP, organização que se distinguiu pela execução de 7 atentados mortais, foi condecorado no dia 10 de Julho de 2010 com a “Medalha de Comportamento Exemplar”
 Por Mário Tomé 
Alpoim Calvão, o chefe operacional do ELP/MDLP, organização que se distinguiu pela execução de 7 atentados mortais, foi condecorado no dia 10 de Julho de 2010 com a “Medalha de Comportamento Exemplar”
A profundidade das transformações do 25 de Abril impostas pelas movimentações sociais durante o efervescente PREC, dificultou a restauração do domínio da finança e a reinstalação das grandes famílias. Persistente e pacientemente o marcelismo foi-se recompondo, ora pela mão dos seus legítimos herdeiros, no PSD, ora pela pragmática visão estratégica de Mário Soares que, segundo ele próprio, tem uma espécie de dedo que adivinha. Sócrates, o seu aposto ou continuado, não tem demonstrado menos crença no futuro... do passado. O devir das sociedades é determinado pelos mais diversos e, tantas vezes, quase indecifráveis factores que provocam grandes saltos de qualidade ou, apenas, assinalam o êxito de um percurso.
A condecoração do Capitão de Mar e Guerra Alpoim Calvão na singeleza que caracteriza os actos com que os militares se elogiam uns aos outros é, insuspeitadamente, a meta que demorou 35 anos – menos o que falta para Novembro próximo – a atingir!
À notícia do DN de 11/7, sendo colorida na descrição, falta ambição.Podia ter ido mais longe no elogio do heróico fuso. Podia ter informado ou apenas lembrado – à malta mais antiga – que o Cmdt. Alpoim Calvão foi o chefe operacional do ELP/MDLP, organização que se distinguiu pela execução de 7 atentados mortais, 62 atentados contra habitações, 52 automóveis destruídos, 62 acções terroristas não especificadas, 102 sedes de partidos de esquerda atacadas e 70 destruídas. Aquela organização terrorista, cujo chefe político era o General Spínola (talvez por isso foi tornado Marechal), especializara-se na colocação de bombas. Foram eles que me mataram um amigo: o Padre Max, candidato a deputado pela UDP, a 2 de Abril de 1976. Dia esse em que, curiosamente, era promulgada a Constituição Política mais avançada do mundo, a nossa, fruto da luta política e social do PREC, que o ELP/MDLP pretendeu sufocar.
Portanto, o comandante Alpoim Calvão foi condecorado no dia 10 de Julho de 2010 com a “Medalha de Comportamento Exemplar”, a única que lhe faltava. Foi-lhe imposta pelo vice-almirante Picciochi, dizendo que “acertámos contas com a justiça”.
Se não é pelas bombas – ou será? - terá sido pela Operação Mar Verde em que Calvão ia liquidar (o termo é este no relato do próprio no livro que escreveu, mas tem vindo a ser atenuado a cada entrevista ou referência estando agora quase ao nível do convite para tomar chá...verde) Amilcar Cabral e o Presidente da Guiné Konacri, que o Ministro da Defesa, o CEMA e o CEMGFA dão cobertura a esta condecoração? Só encontro uma interpretação: a condecoração de Alpoim Calvão representa, simbolicamente, a consolidação do regime que adere à guerra terrorista dos EUA e da NATO contra os povos, e rejeita o imperativo constitucional de continuar a tradição pacífica e anticolonial do 25 de Abril.
(Artigo publicado no jornal “Sol” de 16 de Julho de 2010)

1 comentário:

Jaime Pereira disse...

Este "magano" cuja figura tenebrosa representa bem o passado fascista recente é condecorado porque pertence à quadrilha vitoriosa no 25 de Novembro de 1975. Ainda há quem tenha dúvidas que aquele golpe de estado foi uma "pinochada" à portuguesa, ou seja com brandos costumes?...