"De acordo com a linha internacionalista de Guevara e o princípio de que " o dever do revolucionário é fazer a revolução ", o nome de Marighella inscreve-se na luta dos povos do Terceiro Mundo. Quando renunciou ao cargo que ocupava na direcção do Partido Comunista Brasileiro, dizia que o fazia porque estava disposto a lutar revolucionáriamente junto das massas e não ficar à espera do jogo politíco-burocrático e convencional dos dirigentes.
A sua prespectiva... "Não há outra saída para o terceiro mundo, excepto a organização da guerra justa e necessária contra o imperialismo".
Marighella apontava o exemplo do Vietname e de Cuba aos revolucionários brasileiros e proclamava a luta aberta ao capitalismo nacional e estrangeiro, ao capital sem pátria, e não apenas ao capitalismo monopolista brasileiro"
Dez/74 Adérito Lopes, em introdução ao "Manual do guerrilheiro urbano"
Carlos Mariguella é morto a 4 Novembro de 1969 |
CARTA AOS REVOLUCIONÁRIOS EUROPEUS
“ Queridos companheiros;
Faz algum tempo que os camaradas revolucionários brasileiros mantêm contacto convosco na Europa, por meio dos quais já estão a par das dificuldades que nós encontramos para fazer avançar a revolução no Brasil.
Os companheiros que se encontram na Europa e que discutem convosco os problemas da nossa revolução, são companheiros autorizados e representam junto a vós a nossa organização: ‘Acção Nacional Libertadora’.
A luta que levamos a cabo no Brasil é uma luta de libertação nacional, uma luta contra a classe dominante brasileira. É uma luta contra a actual ditadura militar fascista e, neste sentido, é uma luta antifascista. É uma luta anti-capitalista porque está dirigida contra os grandes capitalistas nacionais associados ao capital estrangeiro. É uma luta pelo socialismo porque tem como objectivo liquidar as classes que mantêm a actual estrutura económica e liquidar o domínio dos grandes capitalistas e latifundiários. Elas representam o maior obstáculo para a marcha em direcção ao socialismo, e são a base interna do imperialismo norte-americano e do capitalismo estrangeiro no nosso país.
A estratégia da ‘Acção Nacional Libertadora’ é a seguinte:
1 – O nosso inimigo é o imperialismo norte-americano. A nossa luta é anti-oligárquica e de libertação nacional. Dada a natureza dessa luta, o nosso objectivo é a transformação radical da estrutura de classes da sociedade brasileira.
2 – Lutamos pela conquista do poder e da destruição do aparato burocrático militar do estado brasileiro, e a sua substituição pelo povo armado. O nosso principal objectivo a instauração de um poder popular e revolucionário.
3 – O nosso programa é a expulsão dos norte-americanos do nosso país, a expropriação das empresas de capital privado nacional que colaboraram com o capital estrangeiro, a expropriação da propriedade latifundiária que hoje está na sua maior parte nas mão dos norte-americanos, e a realização da revolução agrária até às últimas consequências, com a libertação dos camponeses.
E também libertar o Brasil da condição de satélite da política externa dos Estados Unidos para alcançar uma condição de independência frente à política dos blocos militares mantendo uma política externa de apoio activo aos povos subdesenvolvidos em luta contra o colonialismo.
4 – O nosso meio de luta é a guerra revolucionária que já iniciamos no nosso país sob formação forma de guerrilha urbana. Com a expropriação dos bens dos grandes capitalistas nacionais, latifundiários e dos imperialistas yanques, com a sabotagem e a execução de espiões da CIA, como o capitão Chandler, instrutor anti-guerrilha no Vietname e no Brasil, com a apropriação de armas e explosivos, com as perdas e danos infligidos às instalações militares e ao potencial de fogo dos gorilas brasileiros.
5 – A nossa etapa presente consiste em passar da zona urbana à luta armada na zona rural contra os latifundiários, passando à guerrilha rural de movimentos, partindo da aliança armada de operários, camponeses e estudantes, até chegar à formação do exército revolucionário de libertação nacional.
A nossa luta é uma batalha de vida ou de morte contra a ditadura militar fascista brasileira.
Muitos companheiros estão encarcerados nas prisões da reacção e muitos deles foram atrozmente assassinados pela policia e exército brasileiro. Nós teremos urgente necessidade de que esses crimes sejam denunciados pelos jornais e outros meios, aos povos europeus.
Temos necessidade de que os documentos sejam difundidos no exterior para que se conheça a luta que estamos desenvolvendo no Brasil. Necessitamos armas e munições, recursos de qualquer espécie com que os revolucionários possam contribuir como participantes desta luta, que todos os revolucionários sustêm no mundo.
Não vemos distinção entre a luta que conduzimos no Brasil contra o imperialismo norte-americano e a ditadura militar fascista, e a luta que vós conduzis na Europa contra a reacção fascista, os trusts e monopólios, contra a guerra do Vietname, pelo socialismo, pela libertação e o progresso. A luta dos revolucionários europeus é a mesma dos revolucionários da América Latina.
Com esta apresentação, esperamos que os representantes da Acção Nacional Libertadora possam chegar a resultados favoráveis, indispensáveis para a intensificação da luta revolucionária no Brasil e em todo o continente americano.
Saudações revolucionárias
Carlos Marighella
Setembro 1969
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