Henrique Galvão depois de ter desviado o paquete Stª Maria, com mais 24 homens armados. O assalto causou um morto e três feridos entre passageiros e tripulação. Henrique Galvão conseguiu desembarcar os passageiros no Recife e o Presidente do Brasil, Jânio Quadros concedeu-lhe asilo político. A operação "Dulcineia" saldou-se por uma denúncia internacional da natureza ditatorial e antidemocrática do Estado Novo. Em Jornal "Diário de Notícias"
Sobre o Relatório de Galvão de 1947 (*1)
“A miséria indiscritível das condições dos angolanos foi continuamente trazida ao conhecimento do Governo português, mas nada se fez senão reformas no papel. Em 1947, o Capitão Galvão, deputado de Angola à Assembleia Nacional Portuguesa e Inspector principal dos territórios ultramarinos, sob pedido do Governo português examinou essas condições e apresentou um relatório. Galvão foi nomeado porque o Governo português esperava que um ardoroso partidário do Governo fizesse um relatório falso que pudesse ser entregue nas Nações Unidas ou algures. Com efeito, o Capitão Galvão ficou de tal modo escandalizado com o que viu em Angola que mudou de opinião política e fez um relatório correcto e imparcial do que se passava nas possessões portuguesas do ultramar. Como se pode imaginar, o Governo português fez todo o possível por suprimir esse relatório e o Capitão Galvão foi preso pela audácia de ter dito a verdade. Recentemente escapou-se de Portugal para entrar na luta de forma dramática, conduzindo um grupo de 30 homens e apoderam-se do Santa Maria. Uma das maiores críticas que Galvão fez ao regime é o seu palavreado. Em teoria e no papel aboliu o trabalho forçado de que se aproveitavam firmas privadas e certas pessoas. Na prática o trabalho forçado aumentou. Descreve como em Angola, aberta e deliberadamente, o Estado tem o papel de agente recrutador e distribuidor de mão-de-obra por conta de um bando de colonos que escrevem ao departamento de Assuntos Indígenas a pedir um “aprovisionamento de trabalhadores”! Esta palavra “aprovisionamento” é empregue indiferentemente para mercadorias e homens. A existência de escravatura não lhe levanta dúvidas. E cito as suas palavras: “De uma maneira a situação é pior do que a escravatura simples, porque no tempo da escravatura o proprietário depois de comprar o escravo como um animal, trata-o bem como a um cavalo ou boi. Aqui o indígena não é comprado, é alugado pelo Estado ainda que seja considerado um homem livre e o seu patrão importa-se pouco que ele caia doente, que morra no trabalho, porque quando isso acontece requisita outro”. Sustenta estas opiniões com estatísticas escandalizantes mostrando que em certos casos a taxa de mortos é de 40% entre os trabalhadores forçados. Um trabalho forçado deste teor só se pode manter graças a uma extrema brutalidade exercida pelas autoridades portuguesas e os próprios patrões. A situação piorou recentemente com a introdução de grande número de colonos. O estado precário da economia portuguesa na Metrópole faz com que seja necessário para Portugal exportar a sua própria miséria e compensar os seus cidadãos com trabalho que não pode fornecer na Metrópole, destruindo as populações africanas das colónias fornecendo aos portugueses que para aí emigram terra e mão-de-obra barata”
(*1) (Kwame Nkrumah, LE RAPPORT DE GALVÃO, in Présence Africaine, 3º trimestre, Paris, 1962)
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