25 janeiro 2011

PSICOLOGIA DE MASSAS DO FASCISMO - Wilhelm Reich, 1933/34


Do "PREÂMBULO"

   “Na primeira edição em inglesa da “Psicologia de Massas do Fascismo”, publicada em 1946... Para Reich, o fascismo é a expressão da estrutura irracional do carácter do homem médio, cujas necessidades biológicas primárias e cujos impulsos são reprimidos há milénios. Reich analisa cuidadosamente a função social dessa opressão e o papel decisivo que a família autoritária e a igreja desempenham. Prova que toda e qualquer forma de misticismo organizado, como é o caso do fascismo, se baseia nas necessidades orgásticas não satisfeitas das massas.
   ...a estrutura do carácter humano, responsável pelos movimentos fascistas organizados, subsiste nos nossos dias e revela-se dominante, nos actuais conflito sociais. Para que alguma vez se consiga superar o caos e a agonia do nosso tempo, é necessário tomar em consideração a estrutura caracterial que os produz: numa palavra, é necessário conhecer a psicologia de massas do fascismo.”

Nova Iorque, 1970
Mary Higgins
(Administradora do The Wilhelm Reich Infant Trust Fund)

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Do “PREFÁCIO” da 3ª edição, 1942  (publicado em 1933)


“...Na época em que este livro foi pela primeira vez redigido, considerou-se o fascismo como um “partido político” que, à semelhança de outros “agrupamentos sociais”, defendia, de modo organizado, um “ideário político”. Por conseguinte, “o partido fascista impunha o fascismo pela violência ou recorrendo a ‘manobras políticas’.
   Pelo contrário, as minhas, experiências médicas com pessoas de diferentes camadas sociais, raças,, nações, credos, etç., tinham-me ensinado que o “fascismo” não é mais do que a expressão politicamente organizada da estrutura caracterial do homem médio, uma estrutura que não é apanágio de determinadas raças ou nações, ou de determinados partidos, mas que é geral e internacional. Neste sentido caracterial, o “fascismo” é a atitude emocional do homem reprimido da civilização da máquina e da sua maneira mística e mecanicista de encarar a vida.
   É o carácter mecanicista e místico do homem do nosso tempo que cria os partidos fascistas, e não vice-versa.”

“... O “Zé Ninguém” observou bem demais o comportamento dos que dominavam, e procura reproduzi-lo, de modo distorcido e exagerado. O fascista é o segundo sargento do exército gigantesco da nossa civilização industrial, gravemente doente. Não é impunemente que se representa o jogo da alta política perante a massa de “Zés Ninguém”; pois o segundo sargento excedeu em tudo o general imperialista: na música marcial, nas paradas, no ordenar e no obedecer, no receio mortal de pensar, na diplomacia, na estratégia e na prática, nos uniformes e nas paradas, nos enfeites e nas condecorações. Um Imperador Guilherme foi em tudo isto simples “armador”, se comparado com um Hitler, filho de um pobre funcionário público. Quando um general “proletário” enche o peito de medalhas de ambos os lados, e ainda de cima a baixo, trata-se do “Zé ninguém” que não quer ficar atrás do “verdadeiro” general.
   È preciso ter estudado minuciosamente e durante anos o carácter do “Zé ninguém”, os seus mecanismos interiores, para compreender em que forças o fascismo se apoia.
   È na revolta da massa de seres humanos maltratados contra as aparências ocas do falso liberalismo (não me refiro ao verdadeiro liberalismo e à verdadeira tolerância) que vem à superfície o nível dos impulsos secundários.
... Quando se ouve um indivíduo fascista de qualquer tendência insistir em apregoar a “honra da Nação” (em vez da honra do homem) ou a “salvação da sagrada família e da raça” (em vez da sociedade de trabalhadores)...”

Main, Agosto de 1942
                                             Wilhem Reich

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Nota - GLOSSÁRIO:

ECONOMIA SEXUAL. Este conceito aplica-se à regulação da energia biológica ou, o que é practicamente o mesmo, da reserva de energia sexual do indivíduo. Economia sexual é o modo como o indivíduo administra a sua energia biológica - que quantidade reprime e que quantidade descarrega orgasticamente. Os factores que determinam este modo de regulação são de natureza sociológica, psicológica e biológica. A ciência da economia sexual abrange o conjunto de conhecimentos adquiridos através do estudo desses factores. Este conceito caracteriza o trabalho de Reich desde a época em que refutou a filosofia cultural de Freud até à descoberta do Órgon, a partir do qual perferiu o termo orgonomia, ciência da energia vital.
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"Psicologia de Massas do Fascismo" - Wilhem Reich
Traduzido do alemão por Maria da Graça Monteiro Macedo
Publicações "DOM QUIXOTE" - Liboa (anos 70)

Com a devida vénia e créditos à Editora


4 comentários:

Juvenal Amado disse...

Que grande poste.

Filipe obrigado
Pequenos gestos como o teu ao publicar este trabalho, ajudam a abrir os olhos de quem não vê ou não quer ver.
Os intrumentos do fascismo não são ricos e poderosos, que arranjam quem faça o trabalho sujo por eles. Estes instrumentalizam os pobres, deserdados e incultos, para levarem a cabo a sua politica de racismo, exploração e obscurantismo que chega à escravatura.
O fascismo existe na forma de pensar, infiltra-se facilmente onde há miséria, desemprego, pois cria um falso poder utilizando a ignorância como suporte.

Um abraço

Anónimo disse...

Pois é. A verdade é que parece não se ter aprendido nada com a História.
Os ingredientes já estão novamente todos ao dispor de um qualquer que comece a misturá-los e a preparar o caldo.
Aliás não é isso que se começa a ver por diversos Países da UE?
As massas desempregadas que não veem hipótese de subsistência, até já nem são como as analfabetas dos finais do Séc XIX.
E qual a razão para começarem a preocupar-se apenas com o arranjar emprego para os mais novos, alienando aquelas idades que já consideram descartáveis?
Não será pelo receio do "sangue na guelra" dos jovens ser mais perigoso do que os já mais quebrados pela idade?

São só maus pensamentos dum idoso.

Abraço

Jorge Picado

Hélder Valério disse...

Caros amigos

É só para sublinhar a intervenção de Jorge Picado e corrigir a expressão de "são só maus pensamentos dum idoso".`
É que não se tratam de serem "só"... são de facto "maus pensamentos" e teem toda a razão de ser.
O caldo de cultura está aí e se olharmos bem, com olhos de ver, já se notam todos os 'sinais' que conduzem a essa situação.
É certo que a História não se repete, pelo menos em termos de 'fotocópia', pois existem outros mecanismos de comunicação (e manipulação de mentes...), a base escolar das novas camadas que estão a ser empurradas para um abaixamento do nível de vida é superior às do século passado, no entanto o caldo de cultura, como disse, pode desenvolver o 'lumpen' da mesma forma que antigamente, com novas roupagens ou até nem isso.
E entretanto é só ouvir e ler o que vão dizendo certas vozes por aí...

Abraço
Hélder

Jaime Pereira disse...

Apenas duas perguntas?
Será que os "donos do mundo" se preocupam com o desemprego dos novos e dos velhos?
O que quererá dizer o Sr. Cameron com "liberalismo musculado"? http://jornal.publico.pt/noticia/06-02-2011/david-cameron-denuncia-multiculturalismo-21230036.htm
Um comentário: O "Novo Fascismo" tem outros contornos mas vive da experiência anterior. Miséria, ignorância e dividir para reinar.